A lei de Ferguson e a potencial desvalorização do dólar americano no futuro

Há indicadores que sugerem uma potencial desvalorização do dólar americano no futuro próximo. Essa perspectiva, embora complexa e multifacetada, encontra respaldo em diversos dados e análises que merecem atenção.

Baseados na lei de Ferguson, um país que gasta mais com juros da dívida do que com que com defesa, está em uma espiral descendente, essa nação não permanecerá grande por muito tempo. Assim como, historicamente, aconteceu na Espanha dos Habsburgos, para o antigo regime da França, para o império otomano e também para o império britânico.

Fonte: Hoover Institution

No primeiro trimestre de 2024, dados recentes dos EUA mostram que ele gastou US$1.059 trilhão com pagamento de juros da dívida e US$1,03 tri com defesa nacional – exército, em termos anualizados.

A dívida pública atual dos EUA está superando 120% do PIB e a taxa de juros é a maior dos últimos vinte anos. Em abril de 2025, o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos mantém a taxa básica de juros (Federal Funds Rate) entre as bandas de 4,25% a 4,50% aa. O déficit fiscal não para de crescer, hoje em 2 trilhões de dólares e subindo.

O autor Niall Ferguson, escreveu sobre a nova guerra fria entre EUA e China, sinalizando que talvez nessa nova guerra fria sejam os americanos os novos soviéticos. O historiador traz pontos em comum com a decadência da potência russa no fim do regime soviético:

  1. Falta de renovação política, Biden com 81 anos e Donald Trump com 78, assim como não havia no fim da União Soviética no anos 80.
  2. A crescente dívida pública, os déficits orçamentários, falta de credibilidade da liderança pela mentira e desconfiança da população podem levar a uma perda de confiança na capacidade do governo dos EUA de gerir suas finanças. A confiança média decresceu significativamente aos moldes soviéticos.
  3. Em pesquisas com adolescente em relação a desesperança trazendo tendência a suicídio  aumentou de forma alarmante em dados entre 2011 e 2021, mostrando uma população doente.
  4. Por fim, Ferguson para comprovar a sua tese de que os americanos estão doentes, traz dados sobre “morte por desespero”, quando o indivíduo morre por uso execessivo de álcool, drogas, overdose e suicídio e, em todas as etnias quase dobrou os casos de morte em 12 anos de estudo até 2022.
  5. Mortalidade de homens na faixa de 40 – 60 anos de idade que hoje é menos na Rússia do que nos EUA.
  6. Um dado relevante é a expectativa de vida do americano, que embora seja a nação ainda mais pujante, com riqueza e poder aquisitivo inigualável, tem expectativa menor em comparação com outros países desenvolvidos. Enquanto o Reino Unido é de 81 anos os EUA está em 78 e caindo.

A seguir  tabela que mostra a comparação da falta de credibilidade dos EUA hoje, embora ainda tenha uma economia forte com a decadência da URSS

Tabela Comparativa: URSS em Decadência vs. EUA em 2024

AspectoURSS (década de 1980)EUA (2024, Biden)
Divisão PúblicaGastos militares (20% do PIB) levaram à falência econômica.Dívida detida pelo público em 99% do PIB, total de $36,2 trilhões, mas dólar sustenta a economia.
Desigualdade EconômicaAlta entre elite e população, gerando aumento social.1% mais rico detém 30% da riqueza, com disparidade entre áreas urbanas e rurais.
Polarização PolíticaO sistema rígido impede reformas, levando ao colapso.Divisão extrema entre partidos dificulta reformas; Trump liderou a confiança econômica.
InfraestruturaObsoleta, sem investimentos, estagnando a economia.Os investimentos caíram para 0,6% do PIB; a modernização é lenta, apesar de novas leis.
Capacidade de ReformaAs Reformas (Perestroika) falharam, culminando no colapso.Instituições robustas, mas polarização e gastos com juros (18% da receita) limitam ações.


A tabela destaca semelhanças entre a URSS em decadência e os EUA, como a crescente dívida pública, desigualdade econômica e polarização política. Embora os EUA ainda possuam uma economia diversificada e instituições democráticas robustas, os desafios atuais exigem reformas eficazes para evitar um declínio significativo, especialmente em áreas como infraestrutura, desigualdade e gestão da dívida pública.

Indicadores e análises relevantes:

  • DXY (Índice do Dólar Americano): O DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas internacionais, vem apresentando uma tendência de queda desde meados de 2023. Essa trajetória descendente pode indicar uma perda de confiança na moeda americana como porto seguro global.
  • Aumento da dívida americana: A dívida nacional dos Estados Unidos atingiu níveis históricos, com projeções indicando um crescimento contínuo. O FMI previu que a dívida pública dos EUA ultrapassará 123% do PIB em 2024, 126,6% em 2025 e, quase alcançará 134% em 2029, conforme o relatório Fiscal Monitor do FMI. 
  • Política monetária expansionista: A política monetária expansionista do Federal Reserve, com taxas de juros baixas e injeção de liquidez no mercado, pode ter efeitos colaterais negativos no longo prazo. O excesso de liquidez pode levar à inflação, corroendo o poder de compra do dólar.
  • Desempenho econômico global: A desaceleração do crescimento econômico global, especialmente em países desenvolvidos como a China, pode reduzir a demanda por dólares americanos, impactando negativamente seu valor.
  • Tensão geopolítica: A instabilidade geopolítica, como conflitos internacionais e tensões diplomáticas, pode levar os investidores a buscarem refúgio em ativos considerados mais seguros, como o ouro, em detrimento do dólar.

Sinais de alerta e comparação com nações em bancarrota

Embora os indicadores acima sugiram um cenário desafiador para o dólar americano, é importante ressaltar que a economia americana é robusta e possui mecanismos de ajuste. No entanto, a combinação de fatores como endividamento excessivo, políticas monetárias expansionistas e instabilidade geopolítica pode, em um cenário extremo, levar a uma situação similar à de nações em bancarrota. É crucial ressaltar que, no momento, os EUA não apresentam esses sintomas em sua totalidade, mas os sinais de alerta precisam ser monitorados de perto.

Indicadores da Queda da União Soviética:

  1. Economia:
    • PIB: O crescimento do PIB da URSS desacelerou drasticamente nos anos 1980.
    • Dívida Externa: A dívida externa da União Soviética aumentou significativamente.
    • Desabastecimento: Houve escassez de bens essenciais, refletindo ineficiências econômicas.
  2. Política:
    • Corrupção: A corrupção era endêmica, afetando todas as esferas do governo.
    • Reformas Falhadas: As reformas de Gorbachev (Perestroika e Glasnost) não conseguiram revitalizar a economia e, ao mesmo tempo, enfraqueceram o controle do Partido Comunista.
  3. Sociedade:
    • Insatisfação Popular: A insatisfação com a qualidade de vida e a falta de liberdades crescia.
    • Movimentos de Independência: Diversas repúblicas soviéticas começaram a demandar maior autonomia e eventual independência.

Comparação com os EUA Atuais

  1. Economia:
    • PIB: Embora o PIB dos EUA continue a crescer, há preocupações com a desigualdade econômica crescente e a dívida pública alta.
    • Dívida Externa: A dívida nacional dos EUA atingiu níveis recordes, o que é uma preocupação para a estabilidade econômica a longo prazo.
    • Desindustrialização: A terceirização e a perda de empregos manufatureiros afetaram negativamente certas regiões.
  2. Política:
    • Polarização Política: A crescente polarização política e a disfunção legislativa são desafios significativos.
    • Confiança no Governo: A confiança pública nas instituições governamentais tem diminuído.
  3. Sociedade:
    • Tensões Sociais: Tensões raciais e sociais estão em alta, refletindo divisões profundas na sociedade.
    • Desigualdade: A desigualdade econômica e a disparidade no acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, estão aumentando.

Embora existam algumas semelhanças nos desafios enfrentados pela URSS na década de 1980 e pelos EUA atualmente, como problemas econômicos e descontentamento social, as diferenças contextuais e estruturais são significativas. A URSS enfrentou uma crise de legitimidade e funcionalidade estatal muito mais profunda, enquanto os EUA ainda possuem instituições democráticas robustas e uma economia diversificada. No entanto, a atenção a esses indicadores pode ajudar a evitar um declínio similar.

Custos da Dívida Pública e Falta de Investimentos nos EUA

  1. Aumento dos Pagamentos de Juros:
    • Dados Atuais: O pagamento de juros sobre a dívida nacional dos EUA tem aumentado significativamente, consumindo uma porção crescente do orçamento federal.
    • Impacto Futuro: Com taxas de juros potencialmente subindo, os custos de serviço da dívida podem aumentar ainda mais, reduzindo a capacidade do governo de gastar em outras áreas essenciais.
  2. Déficits Orçamentários:
    • Dados Atuais: Os EUA têm enfrentado déficits orçamentários crônicos, aumentando a dívida pública.
    • Impacto Futuro: A manutenção de déficits elevados pode levar a um aumento contínuo na dívida pública, criando um ciclo vicioso de endividamento.

Falta de Investimentos:

  1. Infraestrutura:
    • Dados Atuais: A infraestrutura dos EUA está envelhecendo, com pontes, estradas e sistemas de água necessitando de reparos significativos.
    • Impacto Futuro: A falta de investimento em infraestrutura pode prejudicar a eficiência econômica e a competitividade global.
  2. Educação e Saúde:
    • Dados Atuais: Investimentos insuficientes em educação e saúde pública têm levado a disparidades crescentes.
    • Impacto Futuro: Sem melhorias nesses setores, a produtividade e a qualidade de vida podem declinar, afetando negativamente o crescimento econômico de longo prazo.
  3. Pesquisa e Desenvolvimento (P&D):
    • Dados Atuais: Os investimentos em P&D são críticos para a inovação e a competitividade econômica. No entanto, o financiamento público para P&D tem sido limitado.
    • Impacto Futuro: A falta de suporte para inovação pode colocar os EUA em desvantagem em relação a outras nações que estão aumentando seus investimentos em tecnologia e ciência.

Tendência de Queda e Declínio da Moeda:

  1. Perda de Confiança:
    • Dados Atuais: A crescente dívida pública e os déficits orçamentários podem levar a uma perda de confiança na capacidade do governo dos EUA de gerir suas finanças.
    • Impacto Futuro: Isso pode resultar em rebaixamentos de crédito e aumento dos custos de empréstimos.
  2. Inflação e Desvalorização:
    • Dados Atuais: Se o governo recorrer à impressão de dinheiro para financiar seus déficits, isso pode levar à inflação.
    • Impacto Futuro: A inflação pode desvalorizar a moeda, reduzindo o poder de compra do dólar no mercado global.
  3. Competitividade Global:
    • Dados Atuais: A falta de investimentos em áreas-chave pode prejudicar a competitividade dos EUA.
    • Impacto Futuro: À medida que outras nações investem em infraestrutura, educação e inovação, os EUA podem perder sua posição de liderança global.

Os custos crescentes da dívida pública, combinados com a falta de investimentos críticos, criam uma tendência preocupante para os EUA. Sem ações corretivas, esses fatores podem culminar em um enfraquecimento econômico e declínio da posição global do país, potencialmente levando a uma desvalorização da moeda. É essencial que políticas fiscais responsáveis e investimentos estratégicos sejam priorizados para evitar esse cenário.

Investimento no Exército Americano vs. Custos da Dívida

Investimento no Exército Americano:

  1. Treinamento e Preparação:
    • Dados Atuais: O investimento em treinamento militar tem enfrentado restrições orçamentárias. Há relatos de que exercícios de treinamento são limitados devido a cortes de gastos.
    • Impacto Futuro: A falta de treinamento adequado pode afetar a prontidão e a eficácia das forças armadas dos EUA, potencialmente comprometendo a capacidade de resposta a crises internacionais.
  2. Equipamento e Manutenção:
    • Dados Atuais: A manutenção e atualização de equipamentos militares sofrem devido a orçamentos apertados.
    • Impacto Futuro: Equipamentos desatualizados ou mal mantidos podem reduzir a eficácia operacional e aumentar o risco para o pessoal militar.

Custos da Dívida Pública:

  1. Pagamentos de Juros:
    • Dados Atuais: O serviço da dívida pública, que inclui o pagamento de juros, consome uma parcela crescente do orçamento federal. Em 2023, os EUA gastaram aproximadamente $475 bilhões em juros da dívida.
    • Impacto Futuro: À medida que a dívida pública aumenta, os pagamentos de juros também aumentam, restringindo ainda mais os fundos disponíveis para outras áreas, incluindo a defesa.
  2. Déficits Orçamentários:
    • Dados Atuais: Déficits orçamentários persistentes aumentam a dívida pública, criando um ciclo onde mais receita do governo é direcionada para pagamentos de juros em vez de investimentos produtivos.
    • Impacto Futuro: A redução nos investimentos pode afetar áreas essenciais como defesa, infraestrutura e inovação.

Significado para os Mercados:

  1. Confiança no Poder Militar:
    • Dados Atuais: O poder militar dos EUA é um pilar da sua influência global. Qualquer percepção de enfraquecimento das capacidades militares pode afetar a confiança dos mercados na estabilidade e segurança oferecidas pelos EUA.
    • Impacto Futuro: A falta de investimento adequado nas forças armadas pode ser interpretada como uma diminuição do compromisso dos EUA com a defesa global, o que pode desestabilizar mercados internacionais.
  2. Custo da Dívida e Investimentos:
    • Dados Atuais: Altos custos de dívida restringem a capacidade do governo de investir em áreas críticas. Isso pode levar a uma economia menos robusta e competitiva.
    • Impacto Futuro: Mercados financeiros podem reagir negativamente a uma economia que não investe adequadamente em sua defesa e em outras áreas chave, levando a uma possível desvalorização da moeda e redução da confiança dos investidores.
  3. Risco de Crédito:
    • Dados Atuais: O aumento da dívida pública pode levar a rebaixamentos na classificação de crédito do país.
    • Impacto Futuro: Rebaixamentos de crédito podem aumentar ainda mais os custos de empréstimos para os EUA, criando um ciclo de endividamento e reduzindo a capacidade de investir em defesa e outras áreas essenciais.

Os custos crescentes da dívida pública dos EUA estão restringindo investimentos essenciais, incluindo aqueles no treinamento e manutenção das forças armadas. Essa situação pode afetar a prontidão militar e a capacidade dos EUA de manter sua posição de liderança global, resultando em uma perda de confiança dos mercados financeiros. Para evitar esses riscos, é crucial que o governo implemente políticas fiscais sustentáveis e aloque recursos de maneira eficiente, garantindo a segurança nacional e a estabilidade econômica a longo prazo.

Importância de Ter um Exército Poderoso

Deterrência e Segurança Global
Um exército forte funciona como dissuasor contra adversários, protegendo fronteiras e interesses nacionais. Além disso, a capacidade militar permite a projeção de poder e influência em assuntos globais, como missões de paz e coalizões internacionais.

Proteção Econômica e Estabilidade Interna
As forças armadas garantem a segurança de rotas comerciais e recursos estratégicos, sustentando a estabilidade econômica. Internamente, ajudam a manter a ordem e a responder a emergências e desastres.

Credibilidade Política Internacional
Países com poder militar são levados mais a sério em acordos e negociações. Isso fortalece alianças e amplia a capacidade de influenciar decisões internacionais.

Situação Atual dos EUA
Os EUA enfrentam cortes no orçamento militar, o que resultou na redução de treinamentos, equipamentos obsoletos e degradação da prontidão das tropas. Essa situação compromete a eficácia e a capacidade de resposta global.

Desafios Adicionais
A queda no moral e as dificuldades de recrutamento enfraquecem ainda mais as forças armadas. A percepção de um exército sucateado afeta a motivação e dificulta a renovação do efetivo.


Sem investimentos urgentes, os EUA correm o risco de perder sua posição de liderança militar no mundo, prejudicando sua segurança, influência e interesses estratégicos.

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